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Hamburguesas versus valor

Marcel

Este texto tem dous objetivos. O primeiro, é tentar criar um interesse na contínua luita de classe diária que se empreende todos os dias em cada lugar de trabalho. Tentarei mostrar que algo tam tam completamente trivial e ordinario como trabalhar num restaurante, ou no seu lugar as pequenas luitas ocultas que se empreendem alí contra o trabalho assalariado, é parte do movimento comunista1. O outro objetivo é mostrar que noçons teóricas como capital, comunismo, valor de uso e valor de cámbio, nom som algo abstracto e académico, senom polo contrário algo concreto que influe sobre as nossas vidas e sobre o que nós influenciamos à sua vez.

Fazendo hamburguesas

O meu último trabalho foi num restaurante-hamburguesaria de propriedade privada. Ainda que o restaurante nom pertencia nengumha companhia multinacional como McDonald’s ou Burgerking, era bastante grande e estaba aberto todos os dias da semana, só pechava de 7 a 10 da manhá. A maioria da gente que trabalhava ali eram adolescentes ou gente coma mim que andavam polos vinte anos, principalmente rapazas. A maioria tinham outro trabalho ou íam à escola à vez que trabalhavam no restaurante. A gente ía e vinha continuamente. Nom aturavam as condiçons laborais ou pensavam que o salário era demasiado piolhento. A maioria do persoal estava ilegalmente empregado e tinhas que levar um ano trabalhando para conseguir um contrato e um salário ordinários. Antes disso, estavas de aprendiz cum salário muito mais baixo. Sendo aprendiz também estavas destinado a que o chefe te despedisse quando lhe vinhesse em gana. A maioria da gente que trabalhava ali preferia nom botar no restaurante mais que um par de messes. Estavamos constantemente buscando outros trabalhos ou outros jeitos de conseguir dinheiro.

Muita gente cria que era melhor para os empregados trabalhar nesse restaurante que num McDonald’s, por exemplo. Pensavam isto porque o restaurante nom pertencia a umha grande companhia senom a um home só, e também porque havia rumores de que o proprietário donava dinheiro a equipos de fútebol e a sociedades benéficas. Os que trabalhavamos ali conociamo-lo bem. Os esquerdistas atreveram-se a dizer-me que estava bem que eu trabalhasse no restaurante porque nom era umha multinacional e também a causa dos rumores sobre a filantrópica personalidade dos proprietários. Eles nom entendiam que o conflito entre proletariado e capital está em todos os lugares de trabalho, tanto se é um restaurante ou umha fábrica, umha pequena empresa ou umha grande, de propriedade privada ou controlada polo estado. Mentres haja trabalho assalariado haverá capital, e, mentres haja capital haverá ressistência a el. Esta resistência, a luita de classes, nom só se mostra em formas dramáticas de resistência como folgas, ocupaçons e distúrbios, mas também nas pequenas tentativas de escapar do trabalho e as luitas ocultas dirigidas contra o valor como o roubo, a sabotage e a folga de zelo. Esta pequena e oculta resistência contra o trabalho assalariado tem sido descrita como as termitas que lentamente vam roendo os alicerces sobre os que se sustém o capitalismo2. Nós en Kämpa tillsammans!3 chamamos a estas luitas «resisténcia sem rostro» porque umha das suas características é que nom tenhem rostro e som invisíveis, algo que a miúdo também as fai invisíveis aos assi chamados revolucionários.

Comunismo como movimento

O trabalho assalariado é sempre explotaçom. As condiçons laborais som por suposto muito melhores para um trabalhador dum restaurante sueco que, por exemplo, para um meninho que trabalha numha fábrica de zapatos na China. O problema é que hai só um mundo, onde as condiçons e a explotaçom dos trabalhadores em Suécia e China estám conectadas entre si. Se um é serio sobre cambiar o mundo, um deve atacar a base mesma da que depende o capital, a saber, o trabalho assalariado.

O problema central para o capital é pôr à gente a trabalhar de modo que podam criar valor. Baixo o capital, o trabalho como actividade humana e os meios de producçom som expropriados aos homes e estamos assi forçados a vender a nossa força de trabalho para sobreviver. A nossa actividade humana é abducida pola economia, que o separa de nós. Isto fai-nos esquecer que somos de facto nós, através das nossas próprias relaçons sociais entre nós, e meiante as nossas acçons, os que criamos o mundo. O Capital é um monstro criado polo home, nom umha pantasma misteriosa que flota por riba das nossas cabeças além do nosso alcance. A extendida crença de que a gente nom pode cambiar o mundo ou incluso a sua própria vida diária vém desta separaçom. O sentimento de ausência de sentido e aturdimento pode também estar localizado no facto de que a nossa actividade está separada de nós e virada contra nós como umha força alhea. Como alguém dixo, a noçom de Marx de que a humanidade se realiza a si mesma através da sua actividade tem-se tornado tam estrana que pertence a outro mundo.

Esse mundo – o comunismo – mostra-se nas luitas e nas actividades que se emprenden contra o capital nos lugares de trabalho, nas escolas, nas ruas e nas casas, nom como umha sociedade claro, mas como umha tendência, como un movimento. Se o comunismo é um movimento que se mostra a si mesmo, ante os nossos olhos, entom nós devemos busca-lo.

Se nós somos tam cegos que nom entendemos a importáncia da luita de classes diária, nom obstante débil e isolada, entóm nunca entenderemos realmente que a dinámica que hai detrás destas luitas e actividades continuadas é, de facto, o comunismo mesmo. Esta resistência quotidiana é no peor dos casos incluso desprezada como algo que nom é interessante para nada. Para a gente que tem esta perspectiva som só as luitas fascinantes e heroicas como grandes folgas e ocupaçons do lugar de trabalho as que contam. Ou eles nom se preocupam da importáncia desta resistência, ou nom a entendem. Que a «resistência sem rostro» é sustida dia a dia contra o capital e o trabalho assalariado, e às vezes pode incluso ser mais efectiva que essas luitas abertas, e que som também os primeiros passos importantes cara umha mais ampla e grande comunidade de resistência ao capital, é algo que eles nom alcançam. Que o comunismo esconde o seu rostro detrás dessas luitas é algo que nom creriam incluso nos seus sonhos mais selvages. Para eles o comunismo é um sistema económico que um establece. Nom um movemento que é nascido das entranhas da velha sociedade, nom umha actividade que fundamentalmente cámbia as relaçons da gente co mundo, co outro, coa sua própria vida.

As tentativas de escapar do trabalho

Como dixem antes, a gente ía e vinha constantemente no restaurante. A maioria só trabalhava uns poucos messes e logo o deixavam. Normalmente tinham atopado outro trabalho ou já estavam fartos do sítio. Quando eu trabalhei no restaurante havía só o chefe, o seu filho e os seus amigos mais cercanos que levavam trabalhando no restaurante mais de dous anos. O conflito entre «os novos» (a maioria dos que trabalhavam ali) e os poucos que levavam tempo trabalhando, era óbvio desde o primeiro dia de trabalho. Isto mostrava-se muito claramente porque o filho do chefe e o seu amigo eram os que faziam o plam de trabalho e por isso sempre conseguiam os melhores turnos. Nom só os que acabavamos de empeçar a trabalhar senom também gente que levava vários messes ou mais dum ano tinham maus turnos, principalmente as noites, especialmente as noites dos venres e sábados. Eles também diziam-lhe ao chefe tudo o que nós diziamos ou faziamos, por isso pronto chegarom a serem considerados como os espias do chefe. Era também esta gente a que nos dizia as reglas do restaurante – por exemplo, que nom se permitia falar dos salários e compara-los cos demais. Isto por suposto significava que a primeira pergunta que faziamos a cada novo companheiro quando nos encontravamos com el ou ela era quanto ganhava.

Os «novos» (a maioria dos que trabalhavam e que nom levavam mais de um ano) nom se identificavam co seu trabalho ou co seu lugar de trabalho. Estábamos ali porque necesitábamos dinheiro e eramos abertos os uns cos outros sobre isto. Os novos eram também bastante abertos cos demais sobre o facto de que todos nós tratavamos de várias maneiras de escapar do trabalho.

Dous companheiros de trabalho e mais eu criamos algo que pode comparar-se cum grupo de afinidade. Isto nom foi algo que planejaramos, ainda que, por suposto, tinhamos falado de que nom gostavamos do emprego, que pensavamos que a paga era ruim e cousas assi. Mas nunca falaramos de tentar criar certas actividades contra o trabalho. Isto ocurriou quase espontáneamente. A primeira cousa que fixemos juntos foi que um de nós fichou polo outro no relogio de tempo. Nom me lembro quem o fixo a primeira vez, mas este pequeno esforço para escapar do trabalho foi algo co que continuamos, embora agora planejado juntos. Isto significou que dous de nós puidessemos entrar a trabalhar mui tarde e que se nos pagasse polo tempo que nom estavamos alí. Isto também funcionava mui bem para a persoa que trabalhava soa, porque ao princípio dos turnos de trabalho nom havia a miúdo nada que fazer. Tinhamos que ser bastante coidadosos para que o chefe ou os seus pequenos «espias» nom nos colhessem. Depóis disto, começaramos a colher dinheiro da caixa registradora para que puidessemos jogar ao bilhar ou escuitar música na máquina de discos, ou às vezes levar a casa o dinheiro. Umha das regras do chefe era, por suposto, que nom se nos permitia escuitar música ou jogar ao bilhar no trabalho (ainda quando pagassemos co nosso próprio dinheiro), o que está claro que nom nos preocupava. Se nom colhiamos demasiado dinheiro da caixa o chefe nom notava nada porque tinha umha pequena marge para que a gente pulsasse o preço errado nas caixas. Outra cousa que fixemos para conseguer dinheiro foi teclar no preço errado nas caixas para que o chefe nem sequer puidera notar que esse dinheiro desaparecera. Quando jogavamos ao bilhar ou simplesmente estavamos preguiçosos, tinhamos que ver que os clientes nom eram demasiado descoidados, porque muitas das persoas que iam ao restaurante eram amigáveis co chefe.

Se eras um aprendiz, trabalhavas com outros dous no turno da tarde, mas quando o chefe pensava que tinhas apreendido o mais importante, entom trabalhavas com só outra persoa. Isso significava umha morea mais de trabalho. Para contrarrestar isto cometiamos um montom de pequenas «equivocaçons», de modo que o chefe nom crera que estavamos todavia o suficientemente maduros para trabalhar em parelhas. Por suposto, era mui importante que nom cometessemos equivocaçons que fossem demasiado grandes -nesse caso teriamos simplesmente perdido os nossos empregos. Tinhamos que ter coidado. Esta tentativa de escapar do trabalho fora efectivamente criada por umha equivocaçom. Umha tarde tinhamos muito que fazer, de modo que nom tinhamos listo todo o que deveriamos ter tido antes de que empezasse o turno de noite. Tiveramos que trabalhar uns quince ou vinte minutos de mais e fazer os últimos pratos, encher os surtidores de comida e assi sucesivamente. O chefe trabalhava em cada turno de noite, de modo que provocavamos estas equivocaçons bastante a miúdo, o que significava que trabalhavamos talvez quince minutos extras ou algo assi, mas podiamos ainda trabalhar entre três no turno de tarde, o que fazia a jornada de trabalho muito mais facil e divertida.

Todos estes pequenos esforços por fazer a jornada de trabalho mais divertida e menos alienante eram algo que tentaramos espalhar e fazer circular a outros companheiros de trabalho cos que normalmente nom trabalhavamos. Nom o fixemos falando abertamente de como fugir do trabalho. Em lugar disso, tentamos deixar às actividades falar por si próprias, e entom depóis disso podiamos ser mais abertos sobre elas. Muita gente, claro, fazia já estas cousas. Compartimos sugerências e cada qual tinha o seu próprio jeito de fazer a jornada de trabalho menos aborrida e mais divertido. Por exemplo, eu compartim as nossas pequenas experiências de «grupos de afinidade» sobre como demorar o dia de trabalho com outras persoas coas que trabalhava, de modo que o chefe pensou que tinha que haver três persoas nos turnos. A maioria da gente pensava que era melhor rematar um pouco mais tarde que ter que trabalhar mais duro todo o dia. Umha das grandes fraquezas das nossas tentativas de escape do trabalho (aparte do facto de que eram todas mui defensivas) era que nunca tentaramos implicar a mais gente, especialmente a aqueles que tinham trabalhado no lugar durante mais tempo que nós. Simplesmente assumiramos que eram todos leais ao chefe e ao lugar de trabalho.

Comunicaçom, comunidade e jogo

Falar entre nós, comunicaçom, foi, por suposto, um inportante meio para levar melhor o tempo no trabalho. Isto fixo-se mais importante para mim, persoalmente, quando os dous rapazes do meu «grupo de afinidade» pararam de trabalhar no restaurante. A minha situaçom laboral cambiou dramaticamente porque nom sabia em que gente podia confiar e com quem podia contar. Por suposto, como expliquei, a maioria da gente fazia cousas similares ò que faziamos os meus amigos e mais eu, mas havia algumha gente que lhe contava ao chefe e ao seu filho o que a gente fazia em contra do seu lugar de trabalho. Um dos melhores jeitos de averiguar se podia confiar numha persoa era falar das cousas que se nos proibia falar. Como por exemplo comparar os nossos salários ou perguntar se trabalhavas «ilegalmente» (sem pagar impostos), e se o fazias, quanto da jornada de trabalho era ilegal. Quando um falava disto sempre mostrava em que «lado» estava. Aqueles que nom falavam destes temas nom eram fiáveis. Se che contestavam à pergunta podias dar o seguinte passo. Por exemplo, eu atrevera-me a roubar dinheiro da caixa, algo que antes tinha feito principalmente no meu «grupo de afinidade», com muita outra gente. Fazendo estas pequenas, ilegais e segredas cousas criavamos um sentido de comunidade e solidadaridade entre nós. Umha forma de resistência que fortalecia este sentimento de comunidade e nos vinculava entre nós era a questom de quem devia organizar o trabalho e como devia organizar-se. O chefe normalmente adoitava vir aos turnos e dizer-nos com deviamos fazer o trabalho. El queria dividir o trabalho, de modo que umha persoa estava na cozinha, umha fazia os pratos e outra as hamburguesas. Isto significava que estavamos todos isolados os uns dos outros e faziamos as cousas cada um pola sua conta. Afortunadamente nom havia quase ninguém que obedecera estas normas. Tam pronto como o chefe marchava, organizavamos juntos as actividades do trabalho e ajudavamo-nos entre nós. Estas cousas podem nom ser vistas como algo importante, ou poderiam incluso ser vistas como umha semente da futura auto-gestom do capital. Mas este nom era o caso, porque isso criou umha comunidade entre nós que era importante, e também fixo mais fácil e divertido o dia de trabalho. Era umha resistência contra o aborrecimento e a alienaçom. Era um meio para trabalhar menos. Era um meio, nom umha meta. Se nós tiveramos podido encontrar um emprego melhor ou conseguido dinheiro doutra fonte, ou se puidessemos ser parte dum movimento mais geral e aberto que apontasse a abolir o capital, entom penso que deveriamos ter deixado o restaurante, nom tentado organizar o trabalho por nós mesmos.

Todos os que trabalhamos alí tinhamos diferentes maneiras persoais de criar um dia de trabalho mais excitante e divertido e de tentar criar algumha sorte de comunidade. A miúdo a gente fazia cousas que semelhavam nom ter propósito algum ou otra significaçom que ser divertidas. Mas freqüentemente estas cousas eram um ataque indirecto contra o lugar de trabalho. A gente tentava, nos lugares de trabalho, dispôr de e utilizar para si as mercadorias em lugar de vende-las. Por exemplo, alguns rapazes novos soiam entreter-se fritindo a fundo a comida que nom se supunha que tinha que quedar mui fritida. Pensavam que era divertido jogar coas cousas. Umha moça acostumava fazer malabares coa comida e fazia umha morea de cousas circenses com ela, o que era realmente bastante impresionante.

Outro experimentava cos molhos e usava neles muitas espécias, a miúdo tantas que tinham que tirar-se (quando o chefe o averiguou, puxo-se realmente furioso). Todos tentavamos usar as mercadorias no trabalho para nós mesmos. Em lugar de vende-las, a gente as usava e divertia-se com elas ao seu jeito individual, estrano e freqüentemente muy infantil. Este era um pequeno esforço por conseguir o controlo sobre a actividade que lhes tinha sido furtado e por acender o dia de trabalho. Eram actos contra a alienaçom e o aborrecimento no trabalho.

A luita contra o valor

Na sociedade capitalista umha hamburguesa é como qualquer outra mercadoria, nom valiosa porque pode usar-se, mas porque pode vender-se. Umha hamburguesa nom tem certo valor porque um poda come-la, senom porque um pode vende-la a umha persoa famenta. Baixo o capitalismo, as cousas nom tenhem só um valor de uso (como o dumha hamburguesa que pode comer-se) senom tamém um valor de cámbio (a hamburguesa, como qualquer outra mercadoria, pode vender-se). Isto nom é algo «natural», como quere fazer-nos crêr o capitalismo. De facto, hai um grande conflito na sociedade ao redor destas duas condiçons.

O comunismo é umha actividade que, entre outras cousas, tenta suprimir o valor de cámbio. Significa a criaçom dumha comunidade humana onde as actividades dos homes querem, entre outras cousas, ver as cousas como valores de uso e nom como valores de cámbio, como baixo o capitalismo. Isto mostra-se claramente na luita de classes.

A luita de classes está dirigida contra a mercadoria e o valor de cámbio. No restaurante isto estava claro quando tentavamos usar directamente, sem meiaçons, para as nossas próprias necessidades, as cousas que podiamos atopar no restaurante; por muito estranas que estas necessidades puidessem semelhar. Por exemplo, os sujeitos jóves que gostavam de fritir a fundo a comida até destrui-la, ou a rapaza que fazia malabares cos comestíveis. Mas quiçais as ocasions mais abertas e vissíveis nas que tentavamos utilizar as cousas como valores de uso e nom como valores de cámbio era quando roubavamos comida ou outras cousas do lugar de trabalho. Isto era bastante arriscado, devido a que o chefe tinha um controlo mui estrito sobre os comestíveis e sabia quanta comida se comprava por dia, mas de vez em quando ocorriam roubos. A sabotage no restaurante estava tamém dirigida contra a transformaçom das cousas em mercadorías e valores de cámbio por parte do capital. Umha vez destruimos um montom de comida (mercadorías, valorres de cámbio e, nesse caso, valores de uso) porque o chefe tinha sido mui enojoso com nós. Outro tipo e mais eu estavamos mui furiosos nom só co chefe, mas ante toda a situaçom, porque odiavamos o lugar, de modo que fumos à neveira, sacamos muitas caixas de comida e as destruimos. Isto poderia considerar-se bastante irracional e sem sentido, mas para nós nesse momento parecia-nos mui bem e um alívio real. Depóis de ter feito isso, colocamos as caixas destruidas na neveira e puxemos outras caixas e cousas por riba delas, de modo que passariam algumhas semanas antes de que o chefe ou outros se enterassem, e entom nengum saberia que o fixera. A sabotage e a destruiçom de mercadorias eram mais raras que outras cousas como, por exemplo, os roubos. Mas cada vez que acontecia nos enteravamos que o chefe estava mui intimidado por isso e se comportava com mais «propriedade» com nós depóis de que alguém tivera destruido algo. Outra cousa que ocurriu e que se dirigiu contra o valor, foi que a gente escreveu deliberadamente o preço incorrecto nas caixas. Nom o faziamos para enojar ao chefe, senom porque pensavamos que era demasiado caro comer alí e porque era outra maneira de criar umha pequena comunidade entre nós. Nom umha comunidade de trabalhadores, senom mais bem umha de proletários que estám cansos de ser proletarios, umha comunidade (embora pequena e isolada) de actividades dirigidas contra o trabalho e o valor, contra as mesmas condiçons que fam proletários aos seres humanos.

A luita contra o valor é algo que pode ver-se em todas as partes da sociedade; desde os roubos no trabalho e a pilhage nas tendas até as ocupaçons de casas e lugares de trabalho. O comunismo é umha actividade, que aponta a ser tam poderosa que destrue o valor através da apropriaçom pola humanidade do seu trabalho e dos meios de produçom dos que está separada.*

O chefe

Ainda que a maioria dos que trabalhamos no restaurante nom gostavamos do chefe e as suas maneiras de fazer-nos trabalhar mais duro, nom podiamos deixar de sentir um pouco de pena e simpatia por el. El trabalhava todas as noites da semana, e só se tomava vacaçons umha vez ao ano durante umha ou duas semanas. Todos nós trabalhavamos com el algumhas vezes, e el acostumava andar polo restaurante, de modo que tanto se o queriamos como se nom todos tinhamos umha relaçom persoal com el. Para uns quantos isto criava um sentimento de que deviam ajudar-lhe e começavam a identificar-se co lugar de trabalho. Sentiam que o restaurante era o seu lugar tanto como o do proprietário. O restaurante nom ia tam bem económicamente, e era realmente o proprietário o que trabalhava mais duro de todos nós. A miúdo nos perguntavamos por que trabalhava tam duramente e tam freqüentemente. Nom era preciso para a sua supervivência trabalhar todas as noites. Incluso desejavamos que passasse mais tempo coa sua família da que soia falar pola noite. Ao princípio somentes vim estas cousas como um certo tipo de «moralidade de escravo» burguesa, e a considerava um obstáculo. Que em certo modo o era, por suposto. Todos nós estavamos ligados a el emocionalmente. Mas, depois dalgum tempo, comprendim que isto só afectava de modo marginal às nossas actividades contra o trabalho assalariado. Estavamos conduzidos polos nossos próprios interesses e necessidades, o que nom significava que nom sentiramos compaixom polo nosso chefe e lhe desejassemos outra vida. O nosso desgosto e a nossa resistência dirigiam-se contra o próprio lugar de trabalho, em lugar de contra o chefe. A essência do conflito era sobre o facto de que tinhamos que estar alí para conseguer dinheiro. Queriamos fazer outras cousas, estar cos nossos seres queridos, jogar na praia ou fazer outras cousas mais significativas. Nom queriamos trocar o nosso tempo e a nossa vida para conseguer dinheiro. Nom queriamos o trabalho assalariado. Por suposto, o chefe nom era popular, mas o conflito nunca fora «nós» contra «el», era mais bem «nós» contra a relaçom que nos encerrava no restaurante. Claro que certas actividades estavam a apontar directamente contra el, mas eram mui poucas. A maioria de nós pensava que era umha triste conseqüência que o chefe tivera que sofrer polas nossas actividades, que eram contra as relaçons sociais que nos encerravam alí. Nom havia nengum ganhador no restaurante -nem o chefe nem os trabalhadores4.

Como um pequeno capital

O restaurante podia ver-se como um pequeno capital. O conflito no capitalismo é sobre cousas muito mais essenciais que a diferência entre aqueles que possuem os meios de produçom e aqueles que estám despossuidos deles, ou entre o rico e o pobre. Hai, por suposto, conflitos e diferências reais entre aqueles que possuem e aqueles que nom, e entre ricos e pobres. E quando o proletariado empreende a sua luita contra o capital, tanto velada como aberta, tenhem necessariamente que chocar cos funcionários do capital. Mas nom som os capitalistas os que controlam o capital; é o capital o que controla aos capitalistas. Nom som só os proletários os que som intercambiáveis, mas também os funcionários do capital. No capitalismo os seres humanos nom tenhem valor em tanto que seres humanos. A única cousa que é importante para o capital é o papel que eles cumprem na sociedade, um papel que outro pode assumir se umha persoa nom o cumpre. A luita de classes nom é um projecto de «robin hood» e o proletariado nom é só o pobre. Dizer que o conflito é entre o rico e o pobre oculta a contradiçom real, a saber, entre comunismo e capital. E isto também proporciona à gente umha falsa soluçom acerca de como pode destruirse o capitalismo: a saber, que simplesmente temos que acabar co rico. Esta é umha formulaçom que deixa em pé a realidade; nom é o rico o que cria o capitalismo, é o capitalismo o que cria a riqueza e, por conseguinte, tamém a pobreza. Livraremo-nos desta diferência se nos livramos do capitalismo.

Se nom é o rico quem tem o controlo, quem é entom? É a «lei do valor» a que governa o capitalismo e força a todos, ao rico tanto como ao pobre, a perseguer mais e mais dinheiro. Esta «lei» nom pode domesticar-se, todas as tentativas de faze-lo tenhem falhado ou sido esmagadas. O valor tem que ser destruido se cada um nom vai bailar a sua melodia. Isto foi algo que se monstrou dum jeito mui aberto no restaurante. Por suposto, o nosso chefe ganhava muitíssimo mais dinheiro que nós (e nós queriamos mais dinheiro) mas, igual que nós, os seus empregados, tinha que trabalhar para sobreviver, estava forçado a acumular valor ou acabar na bancarrota. Nas pequenas companhias o proprietário a miúdo tem que trabalhar para si mesmo cos empregados, às vezes ainda mais a miúdo e mais duro que os trabalhadores. Que el possuira o restaurante e ganhasse muito a partir do nosso trabalho criava um conflito real entre el e nós, mas nos teriamos enganado se pensassemos que todos os problemas que encaravamos teriam-se resolto se nos livrassemos do proprietário. Ainda se o restaurante tivera sido de propriedade estatal ou se os que trabalhavamos alí geriramos o lugar por nós mesmos, teriamos ainda que obedecer a tirania do valor e seguer as leis do mercado e a economia. Isto tamém significa que a maioria dos problemas que existiam quando o restaurante era possuido privadamente existem ainda quando a propriedade se cambia. Como dixem com anterioridade, o capital domina aos dominadores e tenta reduzir a todos, tanto ricos como pobres, a algo que seja útil para o capital. Tolera só a persoas que obedecem ao capital e som seguidores passivos da economia.

As condiçons do capital som, simplesmente, que a actividade da humanidade tem sido separada de ela mesma e que somos nós mesmos os que sustemos esta separaçom através das nossas próprias relaçons sociais. Se somos nós, de facto, os que criamos o capital, entom tamém podemos destrui-lo. O capital sobrevive principalmente através da nossa passividade (por suposto, nom podemos cambiar esta passividade meiante o desejo ou a vontade), mas tem também instituiçons como a policia, o exército, a moralidade e a jerarquia que o protegem. Incluso a esquerda e o movimento obreiro o apoiam directa ou indirectamente. O programa da esquerda trata principalmente de COMO a gente deveria gerir a produçom. Os social-demócratas e os leninistas querem umha produçom estatalizada, os libertários e conselhistas** querem que os obreiros mesmos a possuam, e ambos querem distribuir o benefício de modo justo e equitativo. O comunismo trata, claro está, do autogoverno, mas está principalmente dirigido a QUE persoas devem e podem gerir.

Se o capital é passividade onde as nossas actividades nom nos pertencem e onde as persoas nom creem que podam cambiar a sua própria situaçom, entom o comunismo é actividade e movimento. Um movimento e tendência que está presente na luita de classes, na velha sociedade, que tenta aboli-la, e umha actividade que significará a fim das separaçons e meiaçons e, por conseguinte, a destruiçom do valor, da economia e o trabalho. Trata-se dum mundo sem dinheiro e sem benefício. O que nom significa algum paraiso terreal ou que os homes se tenham convertido em anjos. Significa somentes um mundo no que a actividade humana pertenza à humanidade mesma, algo que, de seguro, criará problemas, conflitos e contradiçons novos e inesperados.

Nós somos a contradiçom!

Marcel e Gilles Dauvé

O trabalho é a nossa actividade separada de nós, tornada em algo que alimenta à economia e que nos domina. E este processo pode cambiar-se porque somos os que o alimentam. Nós somos a contradiçom. Nengum trabalho é únicamente imposto desde fóra. Supóm certa cooperaçom desde a base, como o trabalhador da Renault Daniel Mothé monstrara no seus artigos de Socialisme ou barbarie na década de 1950. O que temos descrito como pequenos roubos, sabotage a pequena escala e diversom (todos os quais implicam auto-organizaçom) é tamém o que fai o restaurante tolerável. A resistência ao trabalho é o modo de recuperar algumha «humanidade» da que o trabalho nos priva: fai, por tanto, o nosso dia de trabalho menos alienante. Negar isto é entender mal como funciona o capitalismo, e por que continua apesar dos seus numerosos horrores. A auto-organizaçom da vida laboral (e das suas luitas) é, paradóxicamente, tamém a condiçom dumha possível revoluçom.

O significado do movimento comunista nom é livrar-se do aspecto doloroso do trabalho despraçando a sua carga às máquinas, que se esforçariam por nós mentres nos damos o banquete, escrevemos poemas e fazemos o amor. (Na antigüidade, quando existia pouca maquinária, Aristóteles justificava o trabalho escravo manual devido a que permitia à elite ter umha vida boa e intelectual.) Quem lea entenderá que nós nom anelamos umha sociedade onde cada segundo é divertido. Deixemos tais sonhos a Vaneigem.

Isto está relacionado co conteúdo do trabalho efectivo que se realiza num tal restaurante. Qualquer comida rápida (fast food) é umha expressom dumha sociedade onde o tempo é dinheiro, e actos humanos vitais como comer tenhem que realizar-se no menor tempo possível (=no tempo mais rendável). As hamburguesas, sem embargo, som só um exemplo entre muitos. Os bistecs (que umha vez foram um símbolo da civilizaçom ocidental) som outros meios de assado rápido e de ingerir as suficientes calorias e proteinas para mandar, ao apurado home moderno, de volta à planta de fabricaçom ou à oficina. O mesmo aplica-se às ensaladas de cafetaria que tenhem chegado a ser populares nos últimos vinte anos. Os filetes de carne transmitem umha image dura, algo varonil, mentres que as ensaladas vam cumha atitude supostamente mais branda, aberta e afeminada (genderfriendly). E umha exitosa companhia multinacional de comida que está de moda fai-se chamar Comida Lenta (Slow food).

Somos o que comemos… Certo, mas também somos o que fazemos. Comemos como vivemos. Seria ingénuo assumir que poderia existir ou existirá um jeito melhor de comer, a única e soa comida saudável. Aqui, de novo, quem lea entenderá que nom estamos a defender as comidas veganas orgánicas universais.

Decembro do 2002

Notas

1. Quando declaro que o comunismo é um movimento, quero dizer que existe como umha dicámica detrás da luita de classes ou como umha tendência nela. Nós nom vemos a sociedade comunista na luita de classes, vemos «potenciais» comunistas. Toda luita contra o capital tem um aspecto universal devido a que é umha protesta contra umha vida inumana, e isto é umha semente para a futura comunidade humana. «Umha revoluçom social tem assi um aspecto universal, porque, ainda que poda ocorrer num só distrito industrial é umha protesta humana contra a vida inumana, porque parte do indivíduo singular real, e porque a vida social é a verdadeira vida social do home, a vida realmente humana.» Mas é importante entender que é somentes um aspecto, e também que a semente nom pode crescer em qualquer situaçom.

2. Quando declaro que o comunismo é um movimento, quero dizer que existe como umha dicámica detrás da luita de classes ou como umha tendência nela. Nós nom vemos a sociedade comunista na luita de classes, vemos «potenciais» comunistas. Toda luita contra o capital tem um aspecto universal devido a que é umha protesta contra umha vida inumana, e isto é umha semente para a futura comunidade humana. «Umha revoluçom social tem assi um aspecto universal, porque, ainda que poda ocorrer num só distrito industrial é umha protesta humana contra a vida inumana, porque parte do indivíduo singular real, e porque a vida social é a verdadeira vida social do home, a vida realmente humana.» Mas é importante entender que é somentes um aspecto, e também que a semente nom pode crescer em qualquer situaçom.

3. Kämpa Tillsammans! significa «Luitemos juntos!»

* Nota crítica. Ainda que Marcel considera que o comunismo «destrue o valor através da apropriaçom pola humanidade do seu trabalho e dos meios de produçom», ao longo do artigo existe umha confusom entre a categoria «valor» e a categoria «capital».

A existência do valor significa que os produtos nom se intercambiam em funçom do seu valor de uso, que a distribuiçom da riqueza nom está determinada directamente polas necessidades sociais, e que os trabalhos se relacionam entre si como trabalhos privados. Ou seja, na categoria do valor condensam-se as condiçons de funcionamento da economia mercantil. Mas a produçom mercantil já existia antes do capitalismo: é só a ante-sá histórica. O capitalismo significa que a produçom de mercadorias subsume o trabalho social, transformando-o em trabalho assalariado, e que o trabalho é subordinado à acumulaçom de riqueza na forma do valor. Efectivamente, o capital, enquanto movimento de acumulaçom de riqueza, adopta a forma geral própria da produçom de mercadorias: o valor. Mas o capital nom é já umha relaçom de separaçom entre os produtores e o seu produto na circulaçom, senom umha relaçom de separaçom entre os produtores e o seu produto na produçom.

O capital implica, pois, a existência histórica e actual do valor como forma abstrata da riqueza, mas a existência do valor nom implica a existência do capital. Por isso, a luita contra o valor nom significa necessáriamente umha luita contra o capital; somentes quando a luita contra o valor se dirige directamente contra o processo de valorizaçom do capital, quando se dirige contra a a subordinaçom do trabalho vivo ao trabalho morto, entom podemos falar de comunismo num sentido revolucionário. Se nom, qualquer supressom do valor por meio do roubo ou da usurpaçom da propriedade privada poderia considerar-se como umha prática revolucionária; mas, incluso quando estas expropriaçons de mercadorias dam lugar a formas de propriedade comunais (um comedor popular, um centro social ocupado), estamos a falar de formas de comunismo primitivo que, igual que as antigas formas de propriedade comunal que subsistem ainda hoje, nom suponhem por si mesmos nengum antagonismo radical coa existência do capital como relaçom social.

Em resumo: a luita contra o valor no restaurante de Marcel está, de facto, orientada a socavar a valorizaçom do capital, mas a luita contra o valor nos ejemplos da «pilhage nas tendas» ou da «ocupaçom de casas» nom o está habitualmente. Incluso quando se luita contra a mercantilizaçom de certas cousas, como por exemplo os gens da espécie humana, esta-se a luitar em princípio nom contra o capital, mas contra a sua expansom em certa área da vida -contra a sua dimensom quantitativa que é a que adopta a forma do valor-. O proletariado é revolucionario nom porque esteja movido a suprimir a forma mercantil da riqueza, mas porque está movido a suprimir a forma de capital que adoptam as condiçons e os meios de produçom e reproduçom da sua vida. E fará isto superando a relaçom social na que o ser humano se autoaliena na sua actividade genérica básica   o trabalho  , ao mesmo tempo que começará a ultrapassar a divisom entre trabalho e lezer, meiante um desenvolvimento universal das capacidades e da actividade humanas).

É certo que a maior parte das mercadorias e da riqueza em circulaçom som hoje formas do movimento do capital, e neste sentido todo ataque ao valor perjudica a valorizaçom do capital; mas a diferência é que, num caso o ataque afecta só ao capital na sua existência particular, a uns capitalistas soltos, mentres que, no segundo caso, a acçom revolucionária do proletariado ataca o capital como relaçom social, na sua essência.

4. Nom quero dizer que o proletariado e os chefes tenham os mesmos interesses. Toda luita se enfrentará finalmente dum modo ou outro cos patronos, a policia, os gerentes e outros funcionários do capital. O que quero sublinhar é que nom som os patronos os que tenhem o controlo, e que no restaurante a nossa relaçom co nosso chefe, de modo paradóxico, fortaleceu a «perspectiva comunista» na luita. Estava claro para todos, que nom era o chefe o que era o inimigo, senom que ao que nos opunhamos era à absurdidez de trabalhar por dinheiro.

** Nota crítica. Se se considera o comunismo de conselhos como corrente em desenvolvimento -desde começos do século XX-, entom vera-se que é falso que se lhe outorgue mais importáncia ao problema da gestom dos meios de produçom que ao do desenvolvimento da classe obreira como sujeito revolucionário. É mais, a importáncia do «problema da gestom» no comunismo de conselhos está directamente conectado co problema da supressom da relaçom do capital, co conteúdo das relaçons de produçom comunistas. E, à sua vez, o problema do desenvolvimento espiritual do proletariado vincula-se tamém ao desenvolvimento de novas relaçons sociais. Ambas focages estám particularmente bem claras no pensamento de Anton Pannekoek, mas tamém no de Otto Rühle e Paul Mattick, por nomear aos teóricos mais importantes. A mesma crítica de Marcel poderia, de facto, aplicar-se ao próprio Karl Marx. Mas, se Marx deixou a um lado -sem por isso abandona-la- a teoria do trabalho alienado depois da sua época de «mocidade», foi porque entendera que entre consciência e a prática existe umha correspondência real e que a possibilidade efectiva da supressom do capital está já implicita no desenvolvimento autónomo do movimento proletário.

O facto de que a supressom do capital se formule como um problema de gestom indica que esta se está a pensar no contexto, ou baixo a influência, dumha tendència ao desenvolvimento massivo da autonomia do proletariado. Isto foi o que aconteceu, ou parecia acontecer, durante o processo da Revoluçom alemá de 1918–1923. Contudo, no periodo imediatamente precedente e no periodo subseguinte, encontramos umha maior orientaçom cara o problema do desenvolvimento da consciência revolucionária. O facto de que os grupos revolucionários que se reclamassem do comunismo de conselhos, posteriormente à onda revolucionária dos anos 20, começassem a cair em tendências espontaneistas, no fetichismo da organizaçom e dos conselhos obreiros, é um produto do isolamento e da desesperaçom práticas, nom algo inerente ao pensamento conselhista. A mesma possibilidade de que se ponha juntos a «libertários e conselhistas» indica que estes «conselhistas» retrocederam ao anarquismo em lugar de proseguer como umha corrente independente e enraizada no marxismo original.

A posiçom que adopta Marcel reflicte, à sua vez, que para el o problema da gestom e o do sujeito revolucionário apresentam-se como separados, precisamente porque assi o estám na época actual, porque nom existe um movimento revolucionário do proletariado em ascenso. A existência deste movimento significaria, ao mesmo tempo, e como a sua condiçom vital, o desenvolvimento das capacidades totais do proletariado e a criaçom de novas relaçons sociais -a «aufhebung» do estado presente-. Contudo, estamos de acordo com Marcel em que o germe deste novo movimento proletário poda ver-se já nas formas de rebeliom e luita, imediatas e ocultas, contra a valorizaçom do capital.

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